A coprofagia é definida como o comportamento de ingerir fezes, seja as próprias ou de outros animais. Este hábito, embora perturbador para os tutores, é relativamente comum no mundo animal, especialmente entre cães domésticos. Gatos também podem apresentar este comportamento, porém com menor frequência.
Em filhotes, a coprofagia pode ser considerada normal durante a fase exploratória, quando descobrem o mundo através dos sentidos. Contudo, quando este comportamento persiste na idade adulta ou se torna frequente, geralmente indica questões subjacentes que merecem atenção veterinária.
A coprofagia canina afeta aproximadamente 15% dos cães domésticos, sendo mais comum em fêmeas e animais que vivem em grupos. Este comportamento ancestral pode estar relacionado ao instinto de limpeza do território, mas em pets domésticos frequentemente aponta para desequilíbrios nutricionais ou comportamentais.
Principais Causas da Coprofagia em Pets
Fatores Nutricionais e Fisiológicos
As causas da coprofagia relacionadas à nutrição são extremamente comuns. Dietas de baixa qualidade, com ingredientes de difícil digestão, podem deixar nutrientes não absorvidos nas fezes, tornando-as “atrativas” para o animal. Deficiências específicas de vitaminas do complexo B, principalmente B12, e problemas de má absorção intestinal contribuem significativamente para este comportamento.
Parasitas intestinais como vermes e protozoários interferem na absorção de nutrientes, causando deficiências que podem desencadear a busca por complementação nutricional através das fezes. Doenças digestivas, incluindo insuficiência pancreática exócrina e síndrome de má absorção, também estão frequentemente associadas à coprofagia.
Aspectos Comportamentais e Psicológicos
O comportamento coprofágico muitas vezes tem raízes psicológicas profundas. Animais que sofrem de ansiedade de separação, estresse crônico ou tédio podem desenvolver este hábito como mecanismo de enfrentamento. A busca por atenção do tutor é outro fator importante – mesmo que seja atenção negativa, o animal pode repetir o comportamento para obter resposta humana.
Alguns pets desenvolvem coprofagia por imitação, especialmente em ambientes com múltiplos animais. O reforço acidental também contribui: quando o tutor reage dramaticamente ao comportamento, pode inadvertidamente encorajá-lo.
Condições Ambientais
Ambientes mal higienizados, com acesso constante a fezes, facilitam o desenvolvimento deste hábito. Confinamento excessivo, falta de estímulos ambientais adequados e supervisão insuficiente criam condições propícias para a coprofagia.

Identificando a Coprofagia: Sinais e Sintomas
Sinais Comportamentais Diretos
A identificação da coprofagia em cães e gatos geralmente é evidente através da observação direta. Tutores podem notar o animal ingerindo fezes imediatamente após a defecação ou durante passeios. Comportamentos associados incluem farejar intensamente fezes de outros animais e mostrar interesse excessivo em áreas onde há dejetos.
Sintomas Secundários
Quando a coprofagia tem origem fisiológica, outros sintomas podem estar presentes: alterações no apetite, perda de peso inexplicável, episódios de diarreia ou constipação, gases excessivos e mudanças na consistência das fezes. Halitose persistente também é comum em animais que praticam coprofagia regularmente.
Tratamento Eficaz da Coprofagia: Estratégias Integradas
Avaliação Veterinária Completa
O tratamento da coprofagia deve sempre começar com avaliação veterinária abrangente. Exames coproparasitológicos identificam possíveis parasitas intestinais, enquanto testes de função digestiva avaliam a capacidade de absorção de nutrientes. Hemogramas e perfis bioquímicos podem revelar deficiências nutricionais específicas.
Otimização Nutricional
A transição para rações de alta digestibilidade, com ingredientes premium e perfil nutricional completo, frequentemente reduz significativamente a coprofagia. Suplementos enzimáticos podem ser necessários em casos de insuficiência pancreática, melhorando a digestão e absorção de nutrientes.
Aumentar o teor de fibras na dieta ajuda a promover saciedade e pode reduzir o interesse pelas fezes. Probióticos também contribuem para o equilíbrio da microbiota intestinal, otimizando a digestão.
Manejo Ambiental e Comportamental
A prevenção da coprofagia através do manejo ambiental é fundamental. Recolher fezes imediatamente após a defecação elimina a oportunidade para o comportamento. Manter áreas de passeio sempre limpas e fornecer enriquecimento ambiental adequado reduz o tédio e o estresse.
Treinamento com reforço positivo é altamente eficaz. Ensinar comandos como “deixa” ou “para” permite intervenção imediata quando o comportamento se inicia. Recompensar o animal quando defeca sem comer as fezes reforça comportamentos desejados.
Produtos Deterrentes e Aditivos
Existem produtos comerciais específicos que tornam as fezes menos palatáveis, alterando seu sabor e odor. Estes deterrentes para coprofagia podem ser úteis como medida complementar, sempre sob orientação veterinária.
Coprofagia em Gatos: Particularidades e Tratamentos
A coprofagia felina é menos comum que a canina, mas quando ocorre, geralmente está associada a estresse, mudanças ambientais ou problemas de saúde. Gatos são naturalmente mais seletivos em seus hábitos alimentares, tornando este comportamento particularmente preocupante.
O tratamento em felinos segue princípios similares aos aplicados em cães, com ênfase especial no manejo do estresse e enriquecimento ambiental. Caixas de areia sempre limpas e múltiplos pontos de alimentação podem ajudar significativamente.
Riscos à Saúde e Complicações
A coprofagia apresenta riscos sanitários consideráveis. A ingestão de fezes pode transmitir parasitas intestinais, bactérias patogênicas, vírus e protozoários. Além disso, pode mascarar problemas de saúde subjacentes que requerem tratamento específico.
Complicações incluem gastroenterites recorrentes, reinfestações parasitárias e desequilíbrios da microbiota intestinal. O halitose persistente também afeta a qualidade da interação entre pet e família.

Prevenção: Medidas Proativas Eficazes
A prevenção da coprofagia envolve abordagem multifacetada: nutrição adequada desde filhote, socialização apropriada, manejo ambiental correto e supervisão adequada. Estabelecer rotinas de higiene rigorosas e fornecer estímulos mentais e físicos suficientes são fundamentais.
Monitoramento regular da saúde digestiva e consultas veterinárias preventivas permitem identificação precoce de fatores predisponentes.
Quando Buscar Especialista em Comportamento Animal
Se o comportamento persiste após 4-6 semanas de tratamento adequado, a consulta com especialista em comportamento animal é recomendada. Casos associados a ansiedade severa, comportamentos compulsivos ou múltiplas alterações comportamentais requerem abordagem especializada.
